05 de novembro dia do cinema, confira entrevista com Monteiro júnior

quinta-feira, 5 de novembro de 2009 |

Por: Ivana Machado, ivanna.mv@hotmail.com 

Foto: Produção de "Dona Maria"

Última Atualização 17h00 (horário de Teresina)

Nesta quinta (05) de novembro, dia do cinema, o GiraNotícia, traz pra você uma entrevista com o cineasta Monteiro Júnior. Ele fala do seu filme, com previsão de estreia para dezembro, do cinema piauiense e de sua paixão pela sétima arte.

“Dona Maria”, é o quarto filme do estudante de Comunicação Social da UFPI ,Francisco Alberto de Brito Monteiro Júnior, que além de diretor é autor, escritor, crítico de cinema, psicólogo e atual coordenador de cinema, vídeo e fotografia da Fundação Cultural Monsenhor Chaves.





                           Monteiro Júnior, durante gravação do filme "Dona Maria"

O longa-metragem de 70min, conta a história de Dona Maria, uma heptagenária, abandonada por todos, que encontra na descoberta de uma neta que ainda não conhece um novo sentido para viver. “Dona Maria” busca um diálogo entre vida, morte e solidão na velhice.

O filme apresenta uma fotografia melancólica, e seu principal objetivo é suscitar no espectador uma reflexão sobre como abandonamos as pessoas e como nos deixamos ser abandonados Trata-se de um longa-metragem que mistura os gêneros Ficção e Documentário, pois, paralelamente à história de Dona Maria, o filme traz depoimentos de outras Marias espalhadas pelo Piauí, sobre suas vivência com a velhice, as lembranças que ficam, a maturidade, o amor e a iminência da morte, um assunto tabu que merece ser debatido com honestidade.

ENTREVISTA COM MONTEIRO JUNIOR
GN-PORQUE, APESAR DE TODAS AS DIFICULDADES, VOCÊ ESCOLHEU FAZER CINEMA NO PIAUÍ?
MJ-Eu não acho que tenha escolhido alguma coisa. Para mim, as coisas simplesmente acontecem. Sou piauiense e nasci com o bichinho do cinema roendo minhas entranhas. É natural que minhas primeiras experiências na área aconteçam no universo a qual pertenço e vago. A gente constrói ou desconstrói as coisas a partir do que observa, mesmo que se coloque num contexto universal.
Embora existam essas dificuldades aqui, elas existem em qualquer canto que eu for. Não adianta buscar a oportunidade perfeita, a gente é que a faz. Dentro dessa lógica foi que criei coragem para arriscar ver se eu podia mesmo fazer um filme. Sempre é difícil, como qualquer coisa na vida que você faça. E sempre vai ser. Ter medo das dificuldades é apenas se esconder da vida. E olha que eu sou um cara que luta contra a própria inércia para não se encasular em si mesmo.

GN-VOCÊ SE CONSIDERA UM PRODUTOR DE CINEMA INDEPENDENTE?
MJ-Se você pensar que não existe indústria de cinema no Piauí, que aqui não há nenhuma Hollywood e que as iniciativas na área são esforços pessoais, todo mundo que se arrisca a fazer filme aqui é um produtor independente. Mesmo que tenha empresas apoiando ou o próprio governo financiando, seja por meio de editais ou apoio direto, é o sujeito que quer fazer o seu filme que vai derrubar muros com o projeto debaixo do braço para tornar real a sua vontade. Já dirigi e produzi filmes meus e produzi de outros. É tão independente quanto tentar sobreviver no deserto. Mas com muita persistência e, sobretudo, paciência dá para escapar da morte.

GN-SEU NOVO FILME, “DONA MARIA”, É UM LONGA-METRAGEM. QUAL É A MAOIR DIFICULDADE DE SE PRODUZIR UM LONGA NO NOSSO ESTADO?
MJ-Neste caso específico, não posso generalizar, pois “Dona Maria” foi uma produção complicada desde o começo. Começou como um projeto da banda Madame Baterflai e era uma produção grande demais para os nossos passos. Então, a banda acabou e eu tive que reformular tudo para concluir o que já havia sido gravado. Reestruturei em cima do tema da velhice e essa é a versão final. Ou seja, “Dona Maria” teve umas quatro fases diferentes e tomou quatro anos da minha vida. Foi um processo traumático, chegar no final, e não tem mais nada a ver com o roteiro original. Felizmente, contei com pessoas incríveis que me ajudaram a não desistir e devo a cada uma delas eterna gratidão por ter realizado essa primeira experiência com um filme mais longo.

GN-NOSSA PRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA AINDA SOFRE PRECONCEITO FORA DO ESTADO?
MJ-Sobre isso, não posso falar muito porque não tenho essa informação. Não sei se vêem bem ou mal o que se faz por aqui, ou mesmo se vêem mesmo o que se faz por aqui. Sei que “Ai que Vida!” ultrapassou as fronteiras e o pessoal está gostando muito. E isso é ótimo, se fizer com que as pessoas dos outros Estados fiquem curiosas e queiram ver mais filmes daqui.
Contudo, o que chega aos meus ouvidos são comentários tanto do Ceará quanto do Maranhão, que produzem com freqüência e até mesmo em película, 35 ou 16 mm, questionando por que o Piauí não consegue produzir mais. Por que não se faz filmes aqui em película ou não se produz mais com uma pretensão de qualidade?
O Piauí é o único Estado no qual o cinema não tem nenhuma prioridade para as administrações públicas. É uma barreira que nos trava, transforma-nos em ilha atrasada perante as outras. Produzir cinema aqui, de maneira efetiva, não está na pauta. Esta é uma realidade que precisa mudar. Eles podem falar dos cursos e oficinas de cinema que vez por outra aparecem, mas acho pouco ainda. Não se pode querer dar o conhecimento sem dar as condições para pôr esse conhecimento em prática.

GN-A QUE VOCÊ ATRIBUI  O RELATIVO SUCESSO DO FILME “AI QUE VIDA”, EM RELAÇÃO ÀS PRODUÇÕES ANTERIORES NO PIAUÍ?
MJ-O sucesso do filme do Cícero Filho possui, a meu ver, dois modos de se analisar. Em primeiro lugar, trata-se de uma comédia populista, com humor de situações e um pano de fundo romântico. Cícero acertou em fazer comédia em cima da política, pegando a mesma trilha de humoristas como João Cláudio, Dirceu Andrade e Amauri Jucá. Ora, se o Piauí é um Estado que se sustenta mais pela política, fazer humor em cima disso é certeza que a grande maioria iria gostar e se divertir.
Por outro lado, o sucesso do “Ai que Vida!” também mostra o quanto somos carentes de mais produtos audiovisuais nos quais possamos nos ver na tela. É o reflexo de nossa insuficiência cultural. É como se o público piauiense pedisse: “Façam mais para podermos comparar e desenvolvermos nosso senso crítico e nos sentirmos bem com isso”. O piauiense tem a auto-estima baixa, ele quer acreditar que tem cultura. O que é diferente de ter absorvido a valiosíssima cultura que tem. Noto isso também no teatro, com o sucesso da peça “Black Shit”, que zomba da cultura musical que nós temos.
Chego à conclusão de que o público nosso gosta de ri de si mesmo. Talvez essa seja a fórmula do sucesso. Temos uma auto-estima baixa, sentimo-nos culturalmente carentes e nos divertimos com a caricatura de nós mesmos. Toda obra que mexe com esses três paradigmas ganha o aplauso do público. “Ai que Vida!”, “Black Shit” e nos ilustres humoristas parecem corroborar essa tese de refletir um povo por meio da sátira dele próprio.


GN- DOS SEUS TRÊS FILMES, “NO MEIO DO CAMINHO”, “INSONE” E “DONA MARIA”, QUAL É O SEU PREFERIDO? A MENINA DOS SEUS OLHOS?
MJ-Tem também “A Noite e a Cidade”, que fiz para a gincana cultural do Instituto Dom Barreto logo após “Insone” e que muita gente gosta. O preferido sempre é aquele que a gente está trabalhando. Só este ano, tive que me isolar por três meses da chamada vida social para concluir “Dona Maria”, chegando a adoecer mesmo por isso. Tentei fazer o melhor diante do caos que cerceou a feitura desse filme. E gosto dele, apesar de algumas coisas que não consegui contornar.
Contudo, guardo um sentimento especial por “No Meio do Caminho”. Nem tanto por ter sido a primeira experiência, e sim por ter sido feito entre amigos queridos que tomaram para si a idéia e me possibilitaram a realização de um sonho. Amigos esses que, embora hoje distantes, sempre vou carregar no lado bom do coração.

GN-O QUE TE DAR MAIOR PRAZER? TODA A CORRERIA DA PRODUÇÃO DE UM FILME OU O CONFORTO DE SENTAR NA SALA DE CINEMA E ASSISTIR A UMA ÓTIMA PRODUÇÃO?
MJ-Eu me apaixonei por cinema vendo filmes e os que eu faço são os que quero ver. Para mim, nada substitui a sensação de plenitude que sinto quando sento na poltrona de uma sala de cinema. É uma das poucas coisas que fazem sentido para mim neste mundo louco. Um tanto romântico, eu sei, mas eu preciso conservar em mim algum tipo de magia para continua existindo.

conheça mais sobre este cineasta piauiense:
http://detextando.blogspot.com/
http://cinefiliaonline.zip.net/
http://twitter.com/monteirojunior
http://afetivamemoria.zip.net/

Assista um trecho do filme Insone

0 comentários: